terça-feira, 16 de julho de 2013

Captação de Recursos: Branca de Neve faz inventiva releitura da fábula emulando o cinema mudo

Filme entra em cartaz nesta sexta-feira em Porto Alegre


Macarena García vive a jovem Branca de NeveFoto: imovision / imovision
Marcelo Perrone

marcelo.perrone@zerohora.com.br


Das recentes adaptações da fábula da Branca de Neve para o cinema, a que estreia nesta sexta-feira em Porto Alegre é a mais ousada e inspirada, tanto que é justo classificá-la como um filme de arte de apelo universal. Porque seu diretor, Pablo Berger, coloca o espectador diante de uma experiência que é bastante peculiar na desconstrução do conto de fadas.

Produção que foi a grande vencedora do Goya em 2013 (10 troféus na mais importante premiação do cinema espanhol, entre eles o de melhor filme), Branca de Neve é um filme em preto em branco, sem diálogos e apresentado na ancestral janela quadrada, como seria feito nos anos 1920, época em que se passa o segmento principal da história.

Assista ao trailer



Antes que venha a lembrança de que Branca de Neve segue os passos do oscarizado O Artista neste tributo aos primórdios do cinema, vale reforçar que Berger teve a ideia primeiro. Seu projeto é de 2005, mas a dificuldade em captar recursos para um filme com esse formato atrasou a produção.

A forma com que Berger apresenta Branca de Neve, porém, não resulta de um exercício estético fetichista. O visual, que é deslumbrante, da fotografia e do figurino aos cenários estilizados,casa perfeitamente com o clima gótico da fábula.

Os elementos clássicos consagrados na versão dos Irmãos Grimm estão preservados: a heroína órfã, a madrasta má, os anões, a maçã envenenada, o beijo redentor. Mas o roteiro, do próprio Berger, cria um universo próprio, que tem como cenário Sevilha. Na arena de touros da cidade, brilha o matador Antonio Villalta (Daniel Giménez Cacho). Após um descuido diante de um enfezado miúra, Villalta fica paraplégico. Desgraça maior é descobrir que sua mulher, testemunha da tragédia, morreu no parto da filha.

Carmen (vivida pela encantadora Sofía Oria quando criança e pela expressiva Macarena García na fase jovem) sofre a rejeição do pai, que a culpa pela morte de sua amada, e assiste este sucumbir às investidas da ardilosa enfermeira Encarna (Maribel Verdú, ganhadora do Goya de melhor atriz). Ao se casar com Villalta, a megera transforma a vida da garotinha em um progressivo inferno, até que, ao ver sua vida em risco, Carmen decide fugir.

Os sete anões aqui viram seis. São toureiros mambembes que alegram arenas menos nobres e se tornam protetores da menina, a quem decidem chamar, “como na fábula”, de Branca de Neve. Neste seu terceiro longa-metragem como diretor, Berger comprova a competência para emular com perfeição a atmosfera, não apenas visual,de um modelo especifico de cinema – seu filme anterior, Da Cama para Fama (2003), parecia saído da linha de montagem dos filmes pornôs em Super-8 que parodiava.

É plausível identificar na forma com que Berger apresenta Branca de Neve, nesses tempos em que os filmes se dobram com cada vez maior intensidade à pirotecnia visual e sonora para impactar o espectador, uma tentativa de destacar a força da narrativa e o talento dos atores no primeiro plano, à frente de qualquer outro artifício. Como ele, autores do primeiro time, incluindo o russo Aleksandr Sokurov (em Fausto) e o português Miguel Gomes (em Tabu), têm realizado experiências com essa perspectiva, na qual a estética do passado ajuda a moldar o cinema de qualidade do futuro.


Branca de Neve
(Blancanieves)
De Pablo Berger.
Com Maribel Verdú, Macarena García e Sofía Oria.
Drama, Espanha/França/Bélgica, 2012.
Duração: 104 minutos.
Classificação: 12 anos.

Estreia sexta-feira no Guion Center 3
Cotação: 4 de 5 estrelas

fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/

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