
PUBLICADO EM 30/06/12 - 01h00
CARLOS ANDREI SIQUARA
Quando o arquiteto paulista Mauro Munhoz detalhou para um grupo de produtores culturais e artistas mineiros, ontem à tarde, no Palácio das Artes, a trajetória da Festa Literária de Paraty (Flip) - durante o I Encontro dos Festivais de Cultura de Minas -, o exemplo, serviu como ponto de partida para uma discussão que trouxe à tona reflexões e questionamentos sobre a permanência dos festivais de cultura, além de apenas comunicar as facetas de um projeto criativo bem-sucedido.
Convidado pela organização do evento, organizado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo e o Sebrae-MG, para justamente apresentar a sua experiência, Munhoz, em grande parte do tempo, mudou o roteiro da sua fala para abrir espaço às perguntas que revelavam, sobretudo, a preocupação da maioria com as dificuldades do setor em atrair investimentos via leis de incentivo.
O embate vivido pela área cultural com o atual modelo de gestão dos recursos destinados ao fomento das atividades artísticas permeou, assim, os pontos principais do encontro que, de acordo com a Secretária de Estado de Cultura, Eliane Parreiras, pretende gerar trocas de conhecimento e qualificação de serviços, ao lado da criação de rodadas de encontros e debates.
Após a fala de Eliane Parreiras, a secretária adjunta da secretaria de Estado de turismo, Silvana Nascimento reafirmou a importância de se aproveitar os eventos esportivos, que vão trazer olhares do mundo todo para a região das Gerais. Tal ponto foi retomado na apresentação de Ludmila Kai, assessora do núcleo de centro de treinamento de seleção da secretaria especial da copa de Minas Gerais.
Ao enfatizar a necessidade dos gestores agilizarem o encaminhamento dos projetos dos festivais para que sejam incluídos no calendário a ser construído, Ludmila Kai ouviu dos produtores alguns questionamentos sobre a dificuldade de antecipar essa ação pois muitos deles não conseguem prevê se terão o orçamento necessário para dar continuidade aos programas em razão dos entraves à captação de recursos na iniciativa privada.
Foi argumentado, durante a ocasião, o aporte de recursos financeiros das empresas aos eventos esportivos, uma vez que esses poderão ter mais visibilidade nos próximos anos se comparados aos festivais culturais. Diante disso, foi lançada a dúvida pelos presentes do que poderá ser feito de agora em diante no sentido de evitar maiores percalços.
"O que estamos vendo é o dinheiro da cultura migrar para o esporte. Hoje, se você liga para alguns patrocinadores, eles dirão que o foco é a copa do mundo, então se não nos preocuparmos em criar uma articulação, com apoio do Estado, o panorama ficará muito complicado. Da mesma forma que há uma articulação política grande para trazer a copa do mundo ao Brasil, é importante que se destine atenção a cultura também", observa Quintino Vargas, um dos coordenadores da Mostra de Cinema de Tiradentes.
Também vinculada a àrea de cena, Júnia Torres, coordenadora do festival Forumdo.Bh, por outro lado, enxerga que o problema de captação de recursos não se percebe apenas no presente. De acordo com ela, a situação se arrasta há muitos anos, o que coloca os realizadores na situação de começar o planejamento dos eventos "a partir do zero" anualmente. "A questão da continuidade dos festivais é um problema que nós já vivenciamos e pode ser que seja agravado por essa questão da chegada dos eventos esportivos de 2013 e 2014. Não estamos colocando em questão a realização ou não da Copa. O que nós precisamos é repensar, retroceder, pois o momento é agora, o que nós gente vivemos. Desde que lidamos com as leis de incentivo à cultural, nós passamos por isso, que é a não continuidade dos patrocínios", diz Júnia Torres.
"Então, voltando mais ainda a discussão, o que a gente precisa é discutir essa forma de financiamento dos projetos culturais que passa pelo marketing empresarial. Essa tem sido a grande questão. Muitos projetos não são efêmeros, eles desenham uma sequência, como o Forumdoc.Bh que caminha para sua 16ª edição. Embora tenha essa trajetória, até hoje precisamos continuar recomeçando continuamente a partir do zero, sem saber se será realizada a próxima edição ou não", conclui.
Organizadora do Fórum Internacional de Dança, Adriana Banana, acrescenta que é necessário pensar o Forum Permanente de Festivais como instrumento de ação política.
"Conversar sobre programação, otimizar agenda, ela realmente fica muito concentrada, são questões pontuais. Nós precisamos de empreendimentos culturais que se perdurem. E quando viramos um coletivo, a gente tem essa força de reivindicar mudanças estruturais para a cultura, para as artes. Cria-se toda uma troca de interesses, capaz de fazer circular informações de datas e editais, que ajudam os artistas na hora de procurar patrocínio. Eu trabalho com isso há 25 anos. vi aconteceram muitas coisas, FID colaborou para criação de novos grupos, e se deve a força do Fórum", diz Adriana Banana.
Indagada sobre outras formas de financiamento além das leis de incentivo, Júnia Torres sugere a ampliação dos recursos liberados via fundos com editais públicos. Algumas empresas fazem editais públicos, com outras nós nunca conseguimos patrocínio diretamente das empresas. Por exemplo, o Forumdoc.Bh, por não ser um evento com apelo comercial, não seria viável se não houvesse o patrocínio de programas, como a Petrobrás Cultural, além dos fundos municipal e nacional de cultural. Esse apoio tem permitido que projetos diferenciados aconteçam, mesmo assim, quem define quais projetos serão aprovados é a própria Petrobrás, quando poderia ser o Ministério da Cultura", explica a coordenadora do festival de cinema documentário.
Para Mário Fernando Felipe Ribeiro, organizador de três festivais literários realizados em São João del Rei, Sete Lagoas e Betim, a questão implica também em uma mudança de mentalidade. Ele nota que a partir do Fórum Permanente de Festivais e de ações de interiorização, é possível levar o os empresários a investiram mais em projetos culturais.
"O empresariado não enxerga que associar a marca dele à cultura seja uma coisa tão importante, talvez por ser uma cidade pequena ele não tenha um conhecimento da lei. O Fóruns pode contribuir para mudar isso", reflete Mário Fernando Felipe Ribeiro.

fonte: http://www.otempo.com.br/
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